Os primeiros registros de uma profissão focada na manipulação da madeira são datadas de 2.500 antes de Cristo, no Egito. De lá para cá, muita coisa mudou. O ofício, apesar de ainda existir, aos poucos vira hobby de uma legião de homens, que buscam na serragem e pregos uma alternativa para quebrar a rotina estressante dentro de um escritório.
É o caso de Antonio Silva. O consultor de produtos, 35 anos, chegou do trabalho após um dia duro e percebeu que algo lhe faltava. “ Comecei a me ressentir de fazer atividades manuais, em que eu pudesse controlar todo o processo, do início ao fim. E que resultasse em algo concreto no final desse processo”. Resolveu arriscar. Após se dedicar dois meses em período integral aos sábados, hoje exibe, com orgulho, o rack na sala de sua casa. Desde 1990, Piero Calò recebe alunos em na Cose di Legno, em São Paulo, uma das escolas de marcenaria mais antigas do Brasil. Em turmas mistas de oito pessoas, deixa os alunos escolherem o próprio projeto desde o início. Depois, os professores trabalham o desenvolvimento das técnicas necessárias para a execução das peças. “Procuramos satisfazer as necessidades individuais, dentro do possível e de maneira segura. Damos suporte para a escolha e compra dos materiais, bem como na elaboração dos projetos”, explica. Segundo ele, nos últimos quatro anos a procura tem se intensificado, a ponto de suas turmas terem extensas filas de espera. Em todas as escolas consultadas pela reportagem, o perfil de pessoas que procuram a atividade é semelhante: homens, em sua maioria, com idades entre 25 e 80 e ensino superior completo. São executivos do mercado financeiro, empresários, médicos, entre outras profissões que utilizam mais a mente que a habilidade manual. Essas pessoas, cansadas do digital, acabam buscando uma alternativa. Foi o que aconteceu com Felipe Monteiro. Ele passou os últimos sete anos atuando em agências de publicidade em São Paulo e, no final do ano passado, lembrou os tempos de criança, quando construía casinhas na árvore com madeira e pregos. Após arriscar alguns desenhos, foi atrás de um curso. “Isso, de certa forma, tem me mostrado um caminho de valorizar cada vez mais as coisas simples da vida e dar menos valor à tecnologia”, fala. Em quatro meses de aula, tem trabalhado no conceito de móveis skate. Sua primeira criação é um banquinho com uma prancha no lugar do assento. O designer de móveis e marceneiro Rodrigo Silveira também já esteve do outro lado. Diretor de arte de uma revista aos 23, cansou da vida de escritório, pediu demissão e ficou um ano no Austrália. Quando voltou, já admirador das técnicas, decidiu estudar a arte. Foram seis anos dentro da oficina de Piero antes de começar a andar por conta própria. Hoje, possui um ateliê na Pompéia, em São Paulo, expõe suas criações em Milão e, às terças-feiras, dedica-se a passar o conhecimento adiante. “O pessoal curte bastante trabalhar a madeira. É um exercício de humildade e disciplina, no final da aula todo mundo varre o chão”, explicou, enquanto gravava o vídeo (veja acima) que ensina a montar a poltrona amarela, uma projeto livre para uso, em parceria com a LabMob.
Medicinal
As aulas de marcenaria são ótimas para curar a alma, mas também funcionam muito bem para questões físicas. Luiz Carlos Coelho ilustra bem o último caso. O advogado sempre admirou a marcenaria e iniciou, em 2008, o curso. A exigência no trabalho, um escritório de registro de patentes intelectuais, foi tamanha que precisou abandonar o curso. “No ano passado fui diagnosticado com a Mal de Parkinson, sendo recomendado pelo médico praticar algum hobby. Quando informei sobre aulas de marcenaria, ele achou excelente”, conta.
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